top of page

Carnaval 365 Dias !

Olá, o carnaval é 365 dias!

Como sempre falei, o carnaval é um importante instrumento de transformação,

inclusão, resgate e oportunidades; e venho aqui confirmar isso, com destaque

para uma mulher que admiro muito e que tem uma história incrível de desafios,

superação e vitórias — sempre firme e de cabeça erguida.

Conversando sobre ela com a querida e competente Laiza Bastos — dançarina,

pesquisadora e outra maravilhosa operária do carnaval — pensamos juntas em

fazer a apresentação da recém-eleita Vice-Presidente do Grêmio Recreativo

Escola de Samba Portela:

Nilce Fran.

A menina então se tornou mulher, e não uma mulher qualquer — uma mulher

profissional do samba. Uma passista show cuja arte exige muito mais do que

talento: exige corpo político, resistência diária, inteligência emocional, força

ancestral e, acima de tudo, brilho próprio. Um brilho que não se apaga com os

holofotes da avenida, mas que se mantém aceso no cotidiano de lutas e

conquistas. Foi essa luz que a levou a conhecer o mundo. Com cada carimbo no

passaporte, cada palco internacional que pisava, um novo tijolo era assentado em

seu castelo de realizações. O samba de Nilce cruzou fronteiras, levando com ele

um pedaço de sua comunidade e da história do povo preto brasileiro.

Essa vasta experiência, adquirida nos palcos e nas passarelas, se transformou

em missão. Nilce se tornou coordenadora de passistas, lugar de liderança onde

exerceu, com afeto e firmeza, o papel de mestra. Lapidou talentos, empoderou

outras mulheres, semeou a autoestima em corposhistoricamente marginalizados. Mostrou a muitas que seu lugar é onde quiserem

estar: no centro da avenida, no topo do carro alegórico, no alto comando da

escola. E o batuque que antes guiava apenas seus pés, passou a pulsar também

nos corações de outras, abrindo caminhos e fortalecendo raízes.

Mas Nilce não parou na dança. O mesmo compasso que embalava seus passos

a levou a voos ainda maiores. Seu caminho a levou à presidência da Escola de

Samba Rosa de Ouro, uma agremiação situada no coração do bairro de Oswaldo

Cruz, um território de importância histórica e afetiva para ela, para o samba e para

a cultura afro-brasileira. Ali, ela mostrou que herdou de seu pai não apenas a

ligação com aquela escola, mas também a capacidade de liderança, a sabedoria

e a força de uma mulher negra que sabe onde pisa e para onde quer levar seu

povo.

Seu nome e sua trajetória de liderança, porém, não poderiam ficar restritos a uma

única escola. O destino a conduziu a um lugar ainda mais simbólico: a Portela.

Escola que carrega nas asas da águia altaneira mais de cem anos de tradição,

resistência e glória. Nascida em Oswaldo Cruz e firmada em Madureira, a Portela

é mais do que uma escola de samba — é um monumento à cultura afro-brasileira,

um território de memória viva e de luta contínua. Hoje, Nilce ocupa o cargo de

vice-presidente da Portela, e essa posição, por si só, carrega um sentido profundo

e transformador. Sua presença ali é a consagração de uma vida dedicada ao

samba, à arte e à comunidade.

Nilce é fênix. Em uma sociedade que tantas vezes tenta apagar a chama das

mulheres negras, ela ressurgiu das cinzas, mais de uma vez, com dignidade,

coragem e altivez. Como a própria Portela, que, mesmo após os períodos mais

difíceis, se reergue com garra e altivez, Nilce traz no peito o dom da reinvenção.

Sua história é um espelho onde tantas outras mulheres negras do Carnaval se

reconhecem. Mulheres que, mesmo invisibilizadas pelos holofotes da grande

mídia, continuam, dia após dia, levantando comunidades, sustentando culturas,

educando novas gerações e construindo futuro com sabedoria, generosidade e,

sobretudo, com afeto.Ela é ponte entre o passado e o porvir. Representa as tias do samba, as baianas,

as mães de terreiro, as costureiras do barracão, as meninas que dançam

descalças no quintal. Representa também as novas gerações, as jovens que hoje

sonham com um lugar de fala e de poder no universo do samba. Nilce não apenas

ocupa um espaço: ela transforma o espaço que ocupa. Onde está, planta

dignidade. Por onde passa, deixa rastro de grandeza.

A águia e a fênix se encontram no símbolo que ela representa: mulher, negra,

sambista e líder. Uma força que não se curva diante dos obstáculos, que não

aceita silenciamento e que, ao contrário, se impõe com elegância e firmeza. Sua

presença no alto comando da Portela é uma vitória coletiva. É sinal de que o tempo

das mulheres negras chegou. É agora, e não tem volta. Como um enredo bem

escrito, como uma bateria bem afinada, como um desfile impecável que emociona

e arrebata, Nilce Fran é síntese de beleza e poder.

No giro do samba, no compasso da luta, Nilce Fran permanece de pé. De pés

firmes no chão de seu quilombo, de olhos voltados para o céu onde voa a águia,

ela guiará a Portela, com sabedoria, coragem e amor ao lado do seu presidente

Júnior Escafura – outro grande apaixonado pela águia. Sua caminhada é feita de

batuque e poesia, de suor e sonho, de luta e axé. E sua história, assim como o

samba, é eterna. Porque onde há samba de verdade, há mulher negra e onde há

mulher negra em posição de liderança, há futuro, há justiça e há transformação.

Todo o sucesso ao presidente Junior Escafura e sua equipe.

Salve Nilce Fran!

Por Célia Domingues e Laiza Bastos

TN-2.png

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização.

email_branco_edited_edited_edited.png
whatsapp_edited_edited.png

55 21 994764717 

bottom of page