Carioca Nota 10 - Yvonne Bezerra de Mello
- Turismo News
- 3 de mai.
- 2 min de leitura

Atitude transformadora: seu método de ensino já foi exportado para cerca de quinze países e chegou à França recentemente.
Depois de uma temporada na Europa e na África, onde estudou por anos os problemas cognitivos em crianças vivendo em países em guerra, Yvonne Bezerra de Mello voltou para o Rio de Janeiro e começou a lecionar para jovens em situação de rua – projeto batizado como Escola Sem Portas Nem Janelas, nascido no início dos anos 1980. Atuando em bairros como Copacabana, Madureira e Méier, ela constatou os mesmos gargalos de aprendizagem que observava em ambientes de conflito. Até que, em 1993, um episódio mudou tudo: as oito vítimas da Chacina da Candelária, assassinadas por policiais militares em frente à famosa igreja no Centro, eram seus alunos. “Ali não chorar com eles, tive uma responsabilidade muito grande em não abandoná-los e dar continuidade ao trabalho.” Foi então que resolveu abrir uma escola, que concretizou em 1998 no Complexo da Maré, na Zona Norte: o conjunto de favela assolado por disputas sangrentas entre polícia e facções criminosas. Batizado como Uerê (“crianças de luz”), o projeto já atendeu mais de 15 000 estudantes e sua metodologia foi exportada para cerca de quinze países, como Índia e Ruanda.
“A escola se torna um ambiente mais acolhedor, onde eles se sentem felizes e mais motivados”
A filosofia de ensino desenvolvida ao longo de todas essas décadas leva em consideração o ritmo biológico dos alunos. “Entendi como fazer funcionar o cérebro desses jovens que supostamente não aprendem”, conta. As aulas são mais curtas, no intuito de respeitar o tempo médio de concentração, fazendo com que eles não desenvolvam o conhecido ódio de passar o tempo em sala. E os mesmos assuntos são abordados de formas diferentes – através de jogos, exercícios orais e escritos, trabalhos em grupo. “Assim a escola se torna um ambiente mais acolhedor, onde eles se sentem felizes e mais motivados”, explica. Em 2015, a Unesco a reconheceu justamente por suas décadas de melhorias do para crianças em ambientes de vulnerabilidade, principalmente refugiados. O sucesso internacional de seu trabalho levou a professora, nascida em Ipanema, Vovó vinda para a periferia de Paris com o objetivo de transmitir seus conhecimentos para mais que uma centena de educadores de rua – em sua maioria, jovens negros que atuam junto a crianças expostas a situações complexas de violência e traumas. Suas lições fazem com que muitas delas possam voltar a sonhar.