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A Montagem de Eddy - Violência e Metamorfose

A montagem EDDY – Violência & Metamorfose, em cartaz no teatro Poeira (até dia 31 de agosto) no Rio de Janeiro, é uma experiência teatral que não se contenta em apenas contar uma história — ela invade, perturba e exige uma resposta do público. Baseada nas obras autobiográficas de Édouard Louis: O Fim de Eddy, História da Violência e Mudar: Método, a peça dirigida por Luiz Felipe Reis e Marcelo Grabowsky transforma a dor, a humilhação e a resistência do autor francês em um espetáculo visceral e politicamente urgente. A encenação não poupa o espectador. Desde as primeiras cenas, somos lançados no universo brutal de Eddy, um jovem gay em uma França rural marcada pela pobreza, pelo machismo e pela homofobia. A cena do estupro é encenada com uma crueza que lembra a pintura de Francis Bacon: não há romantização, apenas a exposição crua da violência. A iluminação expressionista e o uso de câmeras em cena amplificam o desconforto, criando um efeito quase claustrofóbico. Sobre os atores: João Côrtes, no papel de Édouard/Eddy, entrega uma performance arrebatadora. Sua transformação física (o cabelo loiro platinado, a postura frágil) é apenas a superfície de um trabalho que mergulha fundo na dor e na raiva do personagem. Igor Fortunato, como Redá (o agressor), evita caricaturas e constrói uma figura complexa — tão vítima de estruturas violentas quanto o protagonista e por fim Julia Lund, como a irmã Clara, traz um contraponto emocional necessário, especialmente na cena em que os dois personagens se reencontram após o trauma, um dos momentos mais sensíveis e bonitos da peça. A adaptação consegue o raro feito de ser fiel ao espírito da obra de Louis sem cair no didatismo. Os monólogos, inspirados nos livros, são intercalados com cenas de ação quase coreografada, como se o texto precisasse sair do papel e ganhar corpo. O cenário é minimalista reforça a ideia de que a história poderia acontecer em qualquer lugar — inclusive no Brasil, onde questões como machismo, LGBTfobia e desigualdade social ecoam com força. Algumas cenas são bem intensas, a violência retratada não é gratuita, e sim parte fundamental da denúncia. É um espetáculo para quem está disposto a ser confrontado. É teatro como arte política, como ferramenta de transformação e conscientização.

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